O Projeto Tamar (TArtaruga MARinha) iniciou em 1980. Tem sido fundamental para a conservação das tartarugas que procuram o litoral brasileiro para procriar. São quatro as principais espécies: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), tartaruga-de-pente (Erytmochelis imbricata) e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). O pico da temporada anual de desova varia entre espécies e regiões ao longo do litoral.
Informações sobre onde, quanto, quando e qual espécie desovam foram cuidadosamente coletadas e sistematizadas por mais de quatro décadas, cobrindo hoje 78 praias entre o litoral de Pernambuco e o estado do Rio de Janeiro. Isto descreve apenas uma parte do riquíssimo acervo de conhecimento biológico e ecológico do Tamar.
A DATENKRAFT foi contatada para desenvolver um plano para o monitoramento amostral das temporadas de desovas com o objetivo de inferir o número anual total de ninhos de cada espécie. Até aqui o monitoramento vem sendo feito em todas as 78 praias, ou seja, de forma censitária. Para racionalizar o uso de recursos financeiros, de pessoal e do tempo despendido em campo, um delineamento amostral que pudesse fornecer inferências com precisão aceitável seria uma alternativa atraente.
Na abordagem tradicional chamada ‘inferência via desenho’ (design-based, no inglês), apenas as contagens de ninhos das praias efetivamente amostradas importam na estimativa para a totalidade das praias. Porém, o Tamar dispõe de um banco de dados censitário para 31 temporadas de desova entre 1991 e 2022 em todas as 78 praias. Não parece razoável simplesmente ignorar esse conjunto valioso de informações, tão arduamente coletadas, no momento de fazer as estimativas.
Para conciliar o delineamento amostral com os dados censitários pretéritos, nós, DATENKRAFT, decidimos propor uma abordagem denominada ‘inferência bayesiana via modelo’ (model-based, no inglês). Esta abordagem representa um importante avanço conceitual e teórico nas últimas décadas. Sua adaptação à prática do monitoramento amostral das praias é inovadora e mostrou-se muito promissora para atender ao objetivo proposto.
Utilizamos o banco de dados censitário pretérito para construir um modelo estatístico que desse conta das variações históricas no número de ninhos e na composição por espécie em cada uma das praias. Para anos futuros, a composição da amostra propõe utilizar dez praias permanentemente monitoradas, acrescidas do sorteio anual de outras 20 praias entre as demais. Finalmente, integram-se três elementos: as mudanças de um ano ao outro captadas pelas dez praias permanentemente monitoradas; as informações in situ das outras 20 praias amostradas; as predições, pelo modelo, para as 48 praias restantes. As inferências e suas margens de erro são calculadas a partir desta tríade de informações.
Não bastava simplesmente construir um delineamento amostral atraente. Seria preciso avaliar seu efetivo desempenho na prática. Entende-se como ‘bom desempenho’ quando as estimativas produzidas são próximas do valor real (pouco viés) e a sua margem de erro (variação aleatória esperada entre amostras) é ecologicamente aceitável. Como na prática a realidade nunca será conhecida sem haver o censo, recorreu-se à criação de uma ‘realidade virtual’ por simulação. Sobre esta realidade virtual, o novo método teve seu desempenho positivamente avaliado.
Finalmente, a DATENKRAFT ainda desenvolveu um software exclusivo para efetuar os cálculos. Desta forma, a cada ano, os técnicos do Tamar apenas precisam informar os resultados coletados in situ. O software faz o resto, estimando os totais de ninhos por espécie e suas margens de erro.
A pesca da tainha (nome científico Mugil liza) é de grande importância econômica, social e cultural no sul do Brasil. Suas ovas, quando maduras no período de reprodução, têm um atraente mercado para exportação. No período reprodutivo, a espécie se agrega em cardumes compactos, às vezes bem próximos às praias. Duas são as consequências deste comportamento da espécie: torna-se muito vulnerável à pesca e, simultaneamente, passa a ideia de que os estoques são muito mais abundantes do que de fato são. Esse fenômeno é denominado “hiperestabilidade” na literatura técnica.
Estudos de ‘Avaliação de Estoque’ calculam o tamanho da população e sua dinâmica ao longo do tempo. Nesta dinâmica interagem fatores de crescimento em biomassa, como reprodução e alimentação, com fatores de sua redução, como a morte natural e o impacto causado pela pesca.
Por fim, ‘Planos de Gestão’ de pesca são estratégias de ação que procuram otimizar a exploração econômica dos recursos, garantindo simultaneamente a sua sustentabilidade. A característica da agregação reprodutiva torna a tainha uma espécie muito sensível ao impacto de uma pesca intensa. A hiperestabilidade retarda sinais de alerta sobre capturas excessivas da tainha, o que pode facilmente levar a falhas na gestão.
A pedido da OCEANA-BRASIL, a DATENKRAFT efetuou uma atualização e validação na avaliação do estoque Sul da tainha. Os resultados indicaram que a biomassa do estoque encontrava-se abaixo do desejável. Ainda a pedido da OCEANA-BRASIL, a DATENKRAFT também calculou um Limite de Captura Anual (LCA) que pudesse funcionar como um teto anual de capturas, garantindo a sustentabilidade futura deste recurso pesqueiro. Utilizou-se para os cálculos uma abordagem bayesiana de análise estatística, a fim de incorporar adequadamente as incertezas nos dados e criar como produto das análises uma “zona tampão” de segurança entre o LCA e um nível que caracterizaria sobrepesca.
Embora a gestão por LCAs já seja utilizada por muitos países com tradição em boa gestão pesqueira, como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, entre outros, a DATENKRAFT foi pioneira no Brasil em calcular e propor os valores pertinentes de LCA para a tainha do estoque Sul.
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